02 julho, 2004

Pés descalços. Uma agressão?

Ontem na hora do almoço surgiu uma questão interessante. Aliás, nunca pensei que um hábito desse papo pra tanta discussão. Tirar os sapatos ao entrar em casa sempre foi um costume natural pra mim. Não pensei que fosse um problema. Descobri, no entanto, que algumas pessoas acham agressivo pedir para uma pessoa tirar os sapatos antes de entrar na casa de alguém.
-E se ela estiver com a meia furada? Se ela tiver chulé, micose?
-E se ela pisar no seu tapete com os pés sujos e depois você sentar nele de shorts?
Enfim... várias questões foram levantadas. Nunca pensei em todos estes problemas. Trata-se de um costume oriental. Segundo meus pais, é uma forma de não trazer sujeira da rua, afinal, vai saber onde você pisou? Como consequência disso, o piso na maioria das casa orientais são equivalentes a esse costume. Logo, não existe na Coréia (pelo que eu sei)carpetes de madeira. A maioria é revestida por uma espécie de manta sem emendas. Aqui no Brasil, as famílias com alguma raiz coreana costuma ter pisos similares. É difícil, claro, mas tenta-se fazer uma adaptação. Tenho muitos amigos japoneses que já não possuem mais este hábito. Acho que é porque os costumes vão se perdendo à medida que as gerações vão passando. Além disso, a imigração japonesa é bem mais antiga que a coreana.
Existe um episódio de Sex and the City que fala, de certa forma, sobre ter que tirar os sapatos na casa de alguém. A protagonista vai a uma festa infantil e a anfitriã pede para que os convidados tirem seus calçados com o argumento de não trazer bactérias das ruas para as crianças. O enfoque é outro, até porque a anfitriã não tem nenhuma descendência oriental. O fato é que a personagem se sente meio estranha com o pedido.
Tudo isso me fez pensar que um hábito que para mim pode ser rotineiro, pode causar uma reação polêmica a outras pessoas. No filme Casamento Grego tem uma parte em que uma mulher cospe em seu neto. Segundo o filme, para os gregos isto é um costume que para nós (para mim, pelo menos) parece estranhíssimo.
Por que é estranho? Porque não tive acesso a esta educação grega que me faria enteder que cuspir em alguém afasta as coisas ruins. Engraçado esta coisa de educação, né? Dependendo das influências que recebemos criamos um parâmetro de estranho e não-estranho.
A conclusão de tudo isso é que independente da maneira como fomos educados, devemos tentar ver o outro lado. Muitas vezes é necessário muita discussão (que é muito saudável). Não é fácil, porque temos nossos próprios conceitos de verdade, contudo, esse esforço, essa reflexão faz com que deixemos de ser pessoas menos mesquinhas, o que torna nossa sociedade muito melhor.

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